segunda-feira, 11 de agosto de 2014

TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO


TRAVESSA EM CANTÃO POPULAR NA COR AMARELO-OCRE – INVULGAR – FÁBRICA DE LOUÇAS PINHEIRA – AVEIRO

As peças em Cantão Popular continuam a merecer a atenção de todos nós, quer pelo fascínio que nos causam, quer pelos mistérios que encerram, começando logo pelo desvendar da fábrica onde foram produzidas, pois a maioria das mesmas não possui qualquer marca ou carimbo.

Quando se fala em Cantão Popular, na generalidade todos associam a cor azul das peças, azul mais forte, menos forte ou mesmo debotado e sempre a ingenuidade na decoração, na maioria ao gosto oriental.

Mas falar de peças de Cantão Popular em amarelo-ocre ou mesmo cor-de-rosa velho é algo não habitual, podendo-se considerar mesmo raro.


Tudo isto a propósito de uma travessa oval, com decoração de Cantão Popular, na cor amarelo-ocre e com carimbo!

Algo invulgar – pois quando vemos qualquer peça de Cantão Popular, mesmo identificando ou presumindo a sua origem de fabrico não resistimos a ver a sua base, tentando desvendar alguma marca ou carimbo, para certificação da sua origem de fabrico.

Com a presente, adotamos procedimento idêntico e logo nos disseram que era de Aveiro, o que também já tínhamos presumido pela sua decoração e composição; mais reforçaram, perante um carimbo na cor azul, que era “Aradas” – ao que nada dissemos, como que aceitando a informação.

 
Na verdade, com a análise detalhada efetuada, à posteriori, facilmente identificamos o carimbo da mesma, como sendo de fabrico da “Louças Pinheira – Aveiro”, quer pelo conhecimento do mesmo, quer por comparação com outras peças.

A decoração, com motivos orientais habituais lá possui a ponte com os três arcos, mas sem figurantes; o Palácio do Mandarim e o Pagode, mais os lagos que envolvem os mesmos e os salgueiros e demais vegetação, alguma bastante estilizada, na cor amarelo-ocre e preto, envolta num largo filete no limite do covo com a aba da travessa, em amarelo-ocre; e num fino filete preto.

 

A decoração da aba da travessa também é rica e intensa, preenchendo na totalidade a mesma, com alternância de motivos: cobertura do pagode, salgueiros, outros motivos vegetalistas, apontamentos de lagos, etc., ora na cor amarelo-ocre, ora pretos; rematando a aba um filete de largura mediana na cor amarelo-ocre. 


Há faianças em Cantão Popular carimbadas e por conseguinte, identificando de forma inequívoca a sua origem de fabrico, por exemplo as que apresentamos a seguir, tentendo contribuir para a identificação dos vários fabricos conhecidos.

1.Lusitânia (Coimbra) (1):




- em tons de azul claro;

- com filete triplo de bordadura da aba, dois finos e o central mais largo;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

 
2. Cavaco (Gaia) (1):



 
- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

 

2.1 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia (2):



 

Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior;

Características diferenciadoras:

- decoração do covo com edifício com arquitetura mais ocidental;


2.2 outro prato de fabrico Cavaco – Gaia:



Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;


2.3 travessa oval de fabrico Cavaco – Gaia:


 
Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
 

2.3 travessa oitavada de fabrico Cavaco – Gaia:

 
Características marcantes que se mantêm:

- em tons de azul escuro, muito forte;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague (canelura) pelo interior;
 

3. Fábrica da Pinheira  (Louças Pinheira) – Aveiro (1):

 

 
- em tons de azul escuro;

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior e um fino pelo interior;

- com o espinhado pelo interior da aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior; (a principal diferença entre os fabricos do Norte e do Sul – sendo uma característica específica do fabrico de Aveiro).

 
3.1 Outro prato, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da Fábrica da Pinheira (4):


 
Características marcantes que se mantêm:

- com filete duplo de bordadura da aba, um largo pelo exterior (em amarelo ocre) e um fino pelo interior (preto);

- com o espinhado pelo interior da aba e a bordadura em ziguezague pelo exterior;

- decoração habitual, ao gosto oriental, (aqui nas cores amarelo ocre e preto);

 
3.2 A nossa travessa oval, em amarelo-ocre e preto de “Aveiro”, com características da Fábrica da Pinheira:




Características diferenciadoras:

- soberba decoração na aba, mas sem o espinhado e a bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da aba e um largo na base da aba, na separação com o covo.

 

3.3 Outra peça (azeitoneira), de “Aveiro”, fabrico das Louças da Pinheira, com marca diferente (5):



Características diferenciadoras:

- abrangente decoração na aba, sem os habituais espinhado e bordadura em ziguezague, mas com um filete fino na bordadura da aba e um, mais largo, na base da aba, na separação com o covo.

- a decoração da aba é um alternativo de zonas ziguezagueadas, separadas por pontos, de outras zonas com as nuvens e os lagos.

 

4. Fábrica de Aradas – Aveiro (2):

 
 
- em tons de azul claro;

- com uma decoração mais fina, mais industrializada, menos popular;

- sem recurso ao espinhado e à bordadura em ziguezague na aba, mas com uma decoração cruzada;

 
5. Lusitânia – Lisboa (3):




- em tons de azul escuro e claro;

- com filete triplo de bordadura da aba, dois finos e o central mais largo;

- com o espinhado pelo exterior da aba e a bordadura em ziguezague pelo interior, secundada interiormente por um xadrez com círculos;


6. Fábrica de São Roque – Aveiro (3):


 
- em tons de azul médio e claro;

- com três filetes finos na aba, um bordadura, e dois finos na separação entre a aba  e o covo, com elementos decorativos a xadrez, violas e outros, entre os mesmos;

- com uma  canelura (bordadura em ziguezague) pelo interior da aba;

Características diferenciadoras:

- Decoração do covo com edifício com arquitetura mais ocidental, com três pisos;


6.1 Outra Peça de São Roque (Aveiro):



 
 

7. Montargila – Algés – Lisboa (5):

 

 

- em tons de azul médio;

- com dois filetes no limite da aba, um largo pelo exterior e outro fino pelo interior, no separação entre a aba e o covo, igualmente dois filetes, um fino pelo exterior, num azul mais claro e um mais largo, num azul mais escuro.

- entre os dois conjuntos de filetes e pelo limite interior dos da bordadura da aba, um espinhado duplo;

- decoração ao gosto oriental, trabalhada, com motivos com pormenores cuidados, mas também já com alguns edifícios desenhados com traça ocidental;

 
8. Faianças Vitória -Aveiro (1): 


 
 

Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, as nuvens, os lagos (a água);


9. Faiança de Gaia (???) – Cantão em tons de rosa (6):


Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);
 
- com dois filetes no limite da base, um largo pelo exterior  (inferior) e outro fino pelo interior (superior), e igualmente dois filetes, um fino e outro mais largo, no limite do bojo.


10. Fábrica de Carritos e Caceira – Figueira da Foz (2):



 
Nota: Só se conhece esta caneca quadrilobada (2) do Museu Municipal Santos Rocha, da Figueira da Foz, cuja respetiva ficha identificativa aponta para a Fábrica de Carritos (localidade), sucessora da Fábrica de Caceira (localidade próxima de da Carritos), dos mesmos proprietários.

Características marcantes que se mantêm:

- os habituais elementos decorativos: a ponte, o palácio, o salgueiro, as nuvens, os lagos (a água);



Em suma, o motivo Cantão Popular reveste-se de características ímpares, quer pela quantidade de fábricas que produziram o mesmo e que ficarão incógnitas para sempre; quer pela diversidade de variantes e estilos adotados; quer mesmo, pela menos usual, aplicação de outras cores que não o azul, tal como o amarelo-ocre da peça apresentada ou mesmo o rosa, de outra peça identificada.

Será que alguma vez se conseguirá efetuar um estudo que sistematize e identifique, de forma mais ou menos concreta, os vários fabricos de Cantão Popular, existente, de Norte a Sul?  


FONTES:







TRAVESSA OITAVADA, MOTIVO ESTÁTUA OU CAVALINHO, DA FÁBRICA CERÂMICA SOARES DOS REIS, LDA. DE VILA NOVA DE GAIA


TRAVESSA OITAVADA, MOTIVO ESTÁTUA OU CAVALINHO, DA FÁBRICA CERÂMICA SOARES DOS REIS, LIMITADA;  DE VILA NOVA DE GAIA

Na senda da identificação dos vários fabricos nacionais de faianças com o motivo Estátua ou Cavalinho apresentamos agora uma travessa oitavada de fabrico do Norte, mais especificamente da Fábrica Cerâmica Soares dos Reis, Limitada, de Vila Nova de Gaia.


Trata-se de uma travessa com o motivo Estátua, ou Cavalinho, na cor verde, partida, colada e com três “gatos” – grampos, para além de uma significativa esbeiçadela na aba, mas que exibe mais uma variante do motivo citado.


Crê-se que se trata de uma peça fabricada no início da década de 40 do século XX, quando a Fábrica do Agueiro foi reestruturada em 1941 e passou a chamar-se Fábrica Cerâmica Soares dos Reis, Limitada (3).


A fábrica citada foi fundada em 1919 e teve aquela designação por se situar no local de Agueiro, em Mafamude – Vila Nova de Gaia, pese embora também com entrada pela Rua Soares dos Reis e daí o nome que passou a ter a partir de 1941 até 1964, ano em que encerrou (3).


Julga-se ter sido com o início da sua reestruturação que se dedicou ao fabrico deste tipo de louça com o motivo em causa, tentando competir com os demais fabricos, especialmente os nortenhos, mas sempre muito aquém do fabrico, a sul, da Fábrica de Louça de Sacavém.

Esta travessa apresenta uma interessante estampagem da cercadura na aba com grinaldas, florões, arabescos e outros, não muito usual neste motivo, mas provavelmente uma referência, para marcar a diferença de idênticos motivos fabricados por outras fábricas.


Em suma, mais uma peça catalogada, de forma simples, para conhecimento de todos.

FONTES:




TRAVESSA OVAL, MOTIVO ESTÁTUA OU CAVALINHO, FABRICO CORTICEIRA DO PORTO


TRAVESSA OVAL, MOTIVO ESTÁTUA OU CAVALINHO, FABRICO CORTICEIRA DO PORTO

 
As faianças com o motivo Estátua ou Cavalinho são sempre uma revelação, quer a nível da estampagem, com as suas enormes variantes, quer a nível da sua fabricação, pois muitas foram as fábricas que as produziram, entre os finais dos séculos XIX e meados do XX.

 

 

Hoje apresentamos uma pequena travessa oval da Fábrica da Corticeira do Porto, com carimbo circular laureado, na cor verde, provavelmente do 1º período da fábrica, com o motivo Estátua ou Cavalinho, uma variante, em tons de verde e bem estampado.
 
 

Crê-se (1) que esta fábrica laborou desde os finais do século XIX até meados da década de sessenta do século XX, pelo que se presume que o fabrico desta travessa remonte a finais do século XIX ou início do XX, quando o carimbo era mais cuidado e com maior beleza, já que em fases posteriores o carimbo era muito mais simples: um entrelaçado “C-P” dentro de um circulo.
 
 
 

Esta travessa apresenta alguns sinais de uso no bordo da aba, mas a sua cercadura estampada apresenta um motivo floral simples fora do habitual do motivo em apreço.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Cantão Popular - Louças da Pinheira - Aveiro - Azeitoneira


Azeitoneira em Cantão Popular da Fábrica da Pinheira – Aveiro

 
As peças de faiança decoradas com o motivo “Cantão Popular”, foram, como sabemos fabricadas em várias fábricas, quer no Norte, quer na zona de Aveiro, quer em Coimbra, quer na zona de Alcobaça ou mesmo na região de Lisboa.

A maioria dessas peças não possuem qualquer marca, carimbo ou outra identificação que lhes permita atribuir a respetiva fábrica onde foram fabricadas, a menos de algumas características particulares, da tonalidade da cor azul aplicada, dos elementos alegóricos desenhados, ou por analogia comparativa com outras peças já identificadas, senão: “É Miragaia”; tudo é “Miragaia” ou “tipo Miragaia”.

Alguns vendedores mais conhecedores, lá arriscam perante as características das peças a dizer “É Coimbra”; “É Aveiro”.

Mas quando surge alguma peça com marca ou carimbo, não restam dúvidas e constituem ótimos testemunhos para identificar outras peças.
 

Tudo isto a propósito de uma pequena azeitoneira de configuração oval, de aba ondulada e recortada, com 18,2 x 12,4 cm, com o motivo “Cantão Popular”, mas com marca! – “LOUÇAS DA PINHEIRA – AVEIRO – PORTUGAL”

 
Quer o covo quer a aba com vasta decoração, pintada à mão, rematando o bordo da aba com um filete grosso, na cor azul.

 


De realçar que na parte central do covo, pese embora o mesmo seja pintado à mão, configura-se que a edificação foi pintada com a aplicação de um stencil (chapa recordada, para mais fácil pintura) ou mesmo uma estampilhagem do edifício (não cremos muito).




Em suma, mais uma reinterpretação popular do motivo “Chorão” (Willow Pattern), sendo mais uma das inúmeras variantes fabricadas em Portugal, as quais se designaram por “Cantão Popular”.

No presente caso, em termos arquitetónicos, o edifício possui já uma imagem formal ocidental, deixando cair o estereótipo do palácio do Mandarim ou do pagode chinês. O tal elemento decorativo que presumimos ter sido aplicado a stencil.

A restante decoração do covo e da aba, é toda efetuada manualmente, havendo a separar a decoração do covo da aba um largo filete azul e outro mais fino, igualmente azul.  

 
Através de pesquisa efetuada (1) encontramos uma peça idêntica à aqui apresentada, em que o edifício é muito semelhante ao da nossa peça, sendo que a vegetação, a paisagem estilizada e a restante decoração são diferentes, certamente mais ao gosto pessoal do artista que a pintou.


Possui marca igual à da nossa peça, mas menos nítida, e por conseguinte de mais difícil leitura.

Trata-se de peças que se presumem terem sido fabricadas na década de cinquenta ou  sessenta do século passado.


Peça semelhante, encontramos na pesquisa efetuada (3), mas que as edificações estilizadas já são ao gosto oriental, com o palácio do mandarim, com o pagode e com a ponte, sendo que não possui quaisquer figuras, mas em que a vegetação, embora mais escassa, se assemelha à da azeitoneira que estamos a apresentar.

Mais uma peça com o motivo "Cantão Popular", cujo fabrico está identificado com carimbo, permitindo assim comparar com outras peças do mesmo mtivo mas sem carimbo da fábrica onde foram produzidas.

 
FONTES:








 

 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Rara Leiteira de Massarelos, com estampagem policroma do período de Sá Lima e Irmão



Rara Leiteira de Massarelos, com estampagem policroma do período de Sá Lima e Irmão


Apreciamos as peças em faiança, não só pela sua presença, exposição ou dimensões, pois inclinar-nos-íamos para as terrinas, para as travessas e para os pratos.

Mas peças há que pela sua graciosidade, pequenez ou características próprias nos fascinam mais que as grandes.

 



Tudo a propósito de uma pequena leiteira de faiança de Massarelos, com 12,5 de altura, um diâmetro na base de 7 cm e no bojo de 10 cm.

 
Leiteira com uma estampagem policroma, sendo uma grande e outra menor, a maior desde a asa até passar o alinhamento do bico e a outra mais pequena, do outro lado, centrada entre a asa e o alinhamento do bico.




A estampagem maior possui uma edificação tipo fortificada, com um embasamento sobre as rochas, com quatro janelas, depois um piso superior, com três janelas e uma torre mais alta, à esquerda, aparentando ter um vão de fenestração superior. As fachadas são na cor amarelo ocre.


Ambos os volumes com telhados de cobertura vermelha, com duas águas.

No tardoz desta edificação fortificada aparenta haver um castelo, com a sua torre de menagem, mais alta, numa cor cinzento azulado.

À direita deste conjunto edificado uma pequena floresta, com arbustos verdes, junto ao solo e superiormente árvores de grande porte, com folhagem castanha, eventualmente na época de estio, quando a mesma começava a cair.

 
À esquerda um lago, na sua cor azul celeste, com dois barcos à vela, de um mastro e uma vela, castanhos, cada um a fletir para o seu lado e ao fundo, um envolvimento arbóreo verde, elevando-se até ao horizonte, com tonalidades desde o amarelo acastanhado até ao avermelhado, sobressaindo sobre o mesmo, a tardoz, outra vez, o céu azul celeste.

 

A estampagem pequena, igualmente policroma, exibe somente a composição do lago, dos dois barcos à vela e do fundo envolvente de enquadramento.
 

Junto à base possui um filete dourado e na asa, trabalhada, com um friso côncavo central, e que na sua vista de perfil se assemelha a um cavalo-marinho, possui também ainda alguns apontamentos de um filete dourado.

 
O bocal do jarro é plano e o bico triangular, alinha com o bocal.




Só por estas particularidades já se tratava de uma peça de faiança rara de Massarelos, mas analisando a base da mesma, vem aí a surpresa maior: possui dois carimbos de Massarelos, do período de fabrico de Sá Lima & Irmão, em que um dos carimbos não ficou devidamente marcado e nítido, e em que o fabricante desta peça, pretendeu de forma inequívoca identificar a mesma e colocou um outro carimbo, igual, mas este de perfeita leitura, ambos monocromos, na cor castanha escura.




Trata-se pois de uma peça fabricada entre 1873 e 1878, sob a gerência de Sá Lima & Irmão (lá estão no circulo central do carimbo “S”, “L” e “I”), em que a respetiva firma foi constituída em 1873 e que viria a ser dissolvida em 1878, por partilha dos bens do pai de ambos, entretanto falecido em 1876.

Esta época de fabrico corresponde à primeira fase do denominado 4º período que vai de 1873 a 1895, no qual começou a fabricação de alguma louça artística, como é o caso desta leiteira, com estampilha policroma.

Em suma uma leiteira rara em faiança de Massarelos, com estampagem policroma, com dois carimbos e do período, provavelmente menos conhecido, da gerência de Sá Lima e Irmão.

Através de pesquisa efetuada, (2), encontramos outras peças com o mesmo motivo e decoração, que reproduzimos aqui, para comparação:




Um prato de bolo, de serviço de chá com o mesmo motivo e decoração,
 

Uma chávena de chá e uma tijela com prato, com o mesmo motivo e da mesma época.

E a partir destas identificações; provavelmente tratava-se de uma leiteira, para o serviço de chá ou de café, do qual o referido prato de bolo, eventualmente também fazia parte – quem sabe!




José Queirós, em 1907, e na fonte citada (4), já identificava esta marca, conforme apresentada no item 419, a páginas 300, como “marca de fabrico recente”, o que era verdade pois referia-se ao período de 1873 a 1878.




Para que conste e para que  se tenha conhecimento deste tipo de faiança produzida pela Fábrica de Massarelos, de um período mesmos conhecido da mesma.




 

FONTES:

1) – “A Fábrica de Louça de Massarelos – Contributos para a caraterização de uma unidade fabril pioneira” – Volume I, de Armando Octaviano Palma de Araújo; Dissertação de Mestrado em Estudos do Património, Universidade Aberta – Departamento de Ciências Sociais e de Gestão, Lisboa – 2012;



4)- “Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos”, de José Queirós, com Organização, Apresentação, Notas e Adenda Iconográfica de José Manuel Garcia e Orlando da Rocha Pinto, Editorial Presença – 3ª Edição – 1987;


6)- “Fábrica de Massarellos – Porto 1763 – 1936”, Exposição Fábrica de louça de Massarelos 1763 – 1936, Porto 1998; Coordenação de Mónica Baldaque, Teresa Pereira Viana e Margarida Rebelo Correia, Museu Nacional Soares dos Reis;